Zumbi morreu por nós também! Ele acreditava que a liberdade era um estado físico que independia da origem étnica ou da condição social. Ele pensava, e agia, para além da libertação dos corpos. Fazia a guerra pensando na paz, prosperava no combate porque, além de diferenciado na arte da guerra, amava a todos e todas indistintamente.
Quando não concordou com Cangazumba, não estava rompendo com a ancestralidade, tampouco desonrando o código de ética e de luta da armada palmarina. Era necessária a ruptura, era necessária a consciência crítica divergindo do senso comum, do engodo ao deslumbre, do desmanche do paradigma para se estabelecer um novo olhar, uma nova perspectiva.
Vingou sua luta, honrou seu legado. Somos hoje um povo de mente colonizada e subconsciente racista. Infelizmente. Absolutos líderes dos indicadores sociais negativos, acostumados com o revés cotidiano, mas que mesmo assim, não nos rendemos à desigualdade social, que lutamos contra o racismo institucional, contra a hipocrisia brutal. Inconscientemente, sim resistimos, inadvertidamente, sem dúvida, sobrevivemos.
Nossa miscigenação não nos torna todos pretos, tampouco brancos, muito menos pardos. Não salva os de pele mais clara dos aspectos cognitivos de um efeito psicossocial prejudicial que se reproduz inconscientemente, que se alastra sorrateiramente. Quem é negro e não sabe é tão vítima quanto o militante que se indigna, quanto a mulher negra que sofre na base da pirâmide social, quanto o branco consciente que não consegue colaborar ou ajudar a eliminar o trauma, o resquício. Havemos de deixar o tempo passar, mas sem esconder mais o assunto. Exigimos as reparações e não entendemos os diferentes porquês, mas mesmo assim os reconhecemos legítimos e a justiça nos ampara e respalda.
A Assembléia Geral das Nações Unidas proclamou o ano de 2011 como o Ano Internacional dos Afrodescendentes, com objetivo de promover reflexão quanto à reafirmação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, na qual segundo a Organização das Nações Unidas - ONU todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos e que toda pessoa tem todos os direitos e liberdades nela enunciadas, sem distinção alguma. Ano difícil esse hein, onde a Lei é aprovada, mas não temos o feriado. Desafio legislativo, parlamentarizado e de êxito parcial. Queremos a parte que nos cabe, protocolamos quase tudo nas conferencias e nos debates. Amadurecemos ao longo dos últimos decênios nossas reivindicações e participamos ativamente do processo de mudança: Estatuto, feriado, cotas, reserva de vagas, reconhecimento das terras remanescentes de quilombos, ADIN´s, ações afirmativas, reparações. Quase 4 séculos de um tipo de escravidão que desde a sua abolição ainda não vimos a igualdade, nem vimos, na verdade, o que aconteceu de fato e o que temos por direito....Abdias que se foi, igualdade que não vem, feriado paradigmático, simbologia
“....irmão, me ajuda aqui, quero contar uma história, mas queimaram o livro. A oralidade é nossa arte, mas me ajuda com o que eu não lembro, me ensina a lembrar do que é meu, do que o Brasil esqueceu e faz questão de não lembrar....”
Valeu Palmares, inspirando minha ação, sempre!!!!