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domingo, 19 de novembro de 2017

NOTA DO EDUCAFRO NÚCLEO SANTOS VALONGO



NOTA DO EDUCAFRO NÚCLEO SANTOS VALONGO 

OS QUASE 15 ANOS DA LEI 10639/2003-11.645/2008: REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA PEDAGÓGICA, A CONSCIÊNCIA NEGRA, O PAPEL DO PROFISSIONAL DE EDUCAÇÃO E DO ESTADO NA LUTA RACIAL
por Fabiana Mendonça e Júlio Tumbi Are *


            Nesta I Marcha Metropolitana refletir acerca da Consciência Negra, pensada por Steve Biko na perspectiva das exigências pedagógicas e curriculares prescritas na Lei 10639/03-11.645/08, para além da conjuntura racista que a Escola, o Estado e a Sociedade nos apresentam, é algo que requer, também, uma autocrítica e um comprometimento fundamental dos profissionais da educação.
               Sim, sabemos que o termo ‘profissionais da educação’ engloba, além do(a) professor(a), gestores, supervisores e demais profissionais componentes do universo escolar/educacional. Contudo, vale ressaltar que equipe pedagógica e professores exercem papéis fundamentais e de destaque nesse processo  de ensino-aprendizgem.
               Em janeiro de 2018, a menos de dois meses, a lei que tornou obrigatório o Ensino da História e da Cultura Africana e Afro-brasileira completará 15 anos de sua implementação legal. E como esses conteúdos estão sendo trabalhado nas escolas da Baixada Santista, do Estado de São Paulo e do Brasil?
               Este texto é na verdade um convite à reflexão sobre as práticas pedagógicas e os fatores que as permeiam.
               Infelizmente ainda encontramos, e até recebemos por meios oficiais, materiais com conteúdo inapropriados ao que determina a lei e, muitas vezes, de cunho racista, tornando fundamental uma análise, por parte da equipe pedagógica e professores, sobre conteúdos que apareceram nos materiais didáticos.
               Há muitos elementos e produções à disposição da educação, para além, inclusive, do material didático fornecido pela direção escolar, cabendo, então, a cada profissional apropriar-se desse conhecimento nas mais diversas fontes e incluí-lo em seu planejamento, lançando mão de   materiais que tragam personagens negros em situação de protagonismo, de destaque, de referências positivas sobre suas funções no contexto, propor situações que aproximem todos os alunos das produções e contribuições da população negra para a construção da sociedade brasileira, sejam elas em nosso idioma, vestimentas, danças, músicas, folclore, economia, artes,  histórias de lutas e resistência, literatura e até mesmo na composição da nossa fauna e flora.
               Contudo, ainda encontramos uma realidade pedagógica pautada na perspectiva da ‘história única’  eurocêntrica onde as questões etnicorraciais que envolvem a cultura e história afro-brasileira continuam sendo invisibilizadas provocando um verdadeiro apagamento cultural da figura do negro no contexto escolar ocasionando sérias conseqüências na formação do aluno. Isso sem contar com a  discriminação racial no espaço escolar , que parece ser  algo sutil, mas não é e, deixar uma criança, em formação psicossocial, exposta cotidianamente a um ambiente toxicamente discriminatório é algo muito perverso  típico de um racismo estrutural e institucionalmente predadores.
               Situações como o silenciamento diante dos conflitos ou até mesmo a postura de legitimação da ação do agressor, piadinhas sobre a estética negra, no caso das meninas geralmente sobre o cabelo, podem acionar gatilhos mentais e estigmas relacionados ao corpo e suas características, além de reforçar as relações de poder que não sendo identificados como casos de discriminação racial são terreno fértil para a naturalização do racismo e consolidação de traumas para toda uma vida, dentro e fora da escola.
               Ou seja, o reflexo dessa postura para o processo educacional é muito trágico, pois a criança negra cresce sem referências étnicas positivas, com baixa autoestima e podendo sofrer traumas psicológicos irreparáveis. Essa situação prejudica também a criança branca pois ela cresce com a impressão de superioridade e internaliza esse modelo de relação, ou seja, esta omissão causa distorções em ambas e ainda (retro)alimenta o racismo, ao passo que, a escola que, juridicamente e pedagogicamente, tem  papel oposto a este, não pode, me hipótese alguma, ser um espaço de segregação.
                É fundamental a construção de uma prática escolar que fomente a criação de uma ética pedagógica não seletiva. Esta ética pedagógica é fundamental para a desconstrução de preconceitos e corrobora para a compreensão da necessidade de um ambiente acolhedor e inclusivo livre de racismo ou qualquer outro tipo de discriminação.
               Esta conduta pedagógica inclusiva, acolhedora e ética precisa ser incorporada no cotidiano escolar não apenas por ser uma prescrição legal, mas por que os profissionais envolvidos compreendem o papel da escola nesse processo de promoção a igualdade racial e de enfrentamento ao racismo. As leis são fundamentais, contudo ter esta consciência ética é fator fundamental.
               Portanto, a educação deve contribuir para a formação e construção de cidadãos conscientes e orgulhosos do seu pertencimento etnicorracial respeitando sempre a pluralidade cultural e étnica presente em nossa sociedade e, para além da autocrítica já bastante considerada e discutida acima, o Estado Brasileiro, nas três esferas, por suas Secretarias Municipais e Estaduais de Educação e MEC, precisam rubricar em seus orçamentos verbas para que a política de fato ocorra dentro da Educação a partir de projetos político-pedagógicos comprometidos com a diversidade, materiais adequados e professores devidamente capacitados periodicamente. A Família Educafro Valongo saúda a Marcha e contribui para o debate na área da educação com estas poucas linhas reflexivas. Resistir, Sobreviver, Denunciar!!!!  Ubuntu!!!!
Coordenação Pedagógica / Coordenação Geral
Núcleo Educafro Santos Valongo
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*Ambos são coordenadorxs do Núcleo Educafro Santos Valongo da Regional Baixada Santista do Projeto

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